a mente agita como um papel ao vento
abana só os pensamentos
e penso que existo mas no fundo só penso
pois existo mais pra outros do que pra mim mesma
e nos outros existo tanto quanto um pensamento
vaga, imprecisa e informal
inventada
sou mais do que penso, porém muito menos do que outros em que penso
e eles coexistem em mim como pragas, daninhas ervas crescendo
pensando e comendo
sendo
mais em mim do que neles mesmos.
sábado, 26 de outubro de 2019
terça-feira, 22 de outubro de 2019
Abjeto
Calada na noite percebo um tino antigo pra fazer do escuro um sabor doce, azedo. Percebo. No fim fazemos de tudo pra perseguir desejos sem que eles nem mesmo estejam, somos na melhor das hipóteses quadros sem molduras. O que não me importa é ser menos exposta, já estou nua e dissimulo a atenção necessária para atividades básicas - mastigar, perdoar, sumir. Tudo à minha volta repara: voei e caio lentamente, rente ao chão e respiro a poeira inerte pisada pela morte dos sonhos. Observo. Já tive mais medo, hoje tenho cal nos sapatos e algodão nos ouvidos. A quem eu engano? O medo é meu único abrigo, aquele que me define com marteladas no estômago. Adorando o escuro, profano. Essa luz e a sua sombra, meus enganos. No silêncio posso me ouvir, abrir, entender...e travo batalhas que nunca perco, já que meu reino é de palavras, facas que furam os olhos vazados do Édipo sem vigília, inocente. Me repito porque ainda não acabei, devo ainda procurar saber. Faço uma lista das minhas vontades e nada mais me assusta, nem mesmo uma surrealidade impressionante e manifestada. Nada. Apenas ouvir também me cabe, pois o som transgride a norma e rompe o delicado véu que envolve a mais pura, a mais sublime sinceridade. Sentir no corpo uma dor. Doer e envolver, acolho o torpor. Evaporo-me. Sou um objeto em extinção. Escuridão.
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
Princípios
Em qual parte de mim me habita uma parte tua que não evito
Tentando olhar de frente o que te busco em tudo
Some e fica
Precipita
Não busco já o que parte de mim não sabe
Pois só saberia ter em ti o que de mim parte
Se não tivesse tudo em mim e nada além
À parte
Preciso, confuso, tudo agita
E só torpe exigir que de ti eu saiba toda a parte
Tentando olhar de frente o que te busco em tudo
Some e fica
Precipita
Não busco já o que parte de mim não sabe
Pois só saberia ter em ti o que de mim parte
Se não tivesse tudo em mim e nada além
À parte
Preciso, confuso, tudo agita
E só torpe exigir que de ti eu saiba toda a parte
sexta-feira, 18 de outubro de 2019
Pequenas fugas ou grandes vazios
Do pudor poesia me assalto em rimas sincréticas
Absolvo o que em mim havia de urro e absorvo
Persigo um instante que salva minha pele do derretimento absurdo - observo
Posso escrever? Minha fuga alucinada pra fora do mundo requer uma precisão cirúrgica - novamente me hermetizo porque preciso, falo dos nadas que me inundam e borbulho pra sumir, regredir, esconder
Nada tenho a esconder
É uma carcaça transparente
Me assusta
Pois nela me vejo através dos olhos do mundo, dando um salto - para o escuro sem poço: fazemos um acordo e eu os deixo sumir dentro do reflexo, sumo e desapareço da história em que um dia acreditei surgir
Sumir
Até acostumar com a dor?
Dôo, pois enxergo na vida algo mais sutil que a própria existência - a ausência
Absolvo o que em mim havia de urro e absorvo
Persigo um instante que salva minha pele do derretimento absurdo - observo
Posso escrever? Minha fuga alucinada pra fora do mundo requer uma precisão cirúrgica - novamente me hermetizo porque preciso, falo dos nadas que me inundam e borbulho pra sumir, regredir, esconder
Nada tenho a esconder
É uma carcaça transparente
Me assusta
Pois nela me vejo através dos olhos do mundo, dando um salto - para o escuro sem poço: fazemos um acordo e eu os deixo sumir dentro do reflexo, sumo e desapareço da história em que um dia acreditei surgir
Sumir
Até acostumar com a dor?
Dôo, pois enxergo na vida algo mais sutil que a própria existência - a ausência
terça-feira, 15 de outubro de 2019
Ecos
A tua voz ecoa na minha nuca caverna como se buscasse
O elo perdido aos prantos, chorar uma valsa antiga
Quisesse bater na porta do nosso primeiro beijo ressona
No momento das coisas todas sendo velhas ou novas pesadas
Só o som que te sobra me verte e nos une no chão
Onde ainda soa teu raio, ou a mão
E vazia me deito ao som
Do teu olho que voa sem prazo
sexta-feira, 11 de outubro de 2019
Rarefeita
Mal respiro
E a fraqueza do ar me dissolve na realidade que agora parece sonho e que tento ofuscar
Agulhas
Pedras
Encontro no silêncio o ruído aceso da multidão que me surgiu
Sou toda ouvidos - pétalas
Ouço ainda ecos de gritos de vou embora pedindo venham me salvar
Sussurro, no alto do escuro trepidando de frio derreto
Não sei ser outras palavras
Ou fios
Vou embora
Lá talvez o olhar seja perfeitamente calculado entre tudo o que vai dar certo
E o que falta de sentido
Lá se morre sem pudor e se esquece subitamente
Que vivemos procurando um escape
Pra não sofrer em silêncio
Entre lá e aqui
Sou verso que foge pelos poros e salga o que foi
Pois insisto em retirar dele as migalhas pra depois matar de saudade a inanição
Me embrulha o estômago
Me brilha os olhos
Me paralisa
Nada mais importa, de qualquer forma nunca fiz sentido nenhum.
Ou fios
Vou embora
Lá talvez o olhar seja perfeitamente calculado entre tudo o que vai dar certo
E o que falta de sentido
Lá se morre sem pudor e se esquece subitamente
Que vivemos procurando um escape
Pra não sofrer em silêncio
Entre lá e aqui
Sou verso que foge pelos poros e salga o que foi
Pois insisto em retirar dele as migalhas pra depois matar de saudade a inanição
Me embrulha o estômago
Me brilha os olhos
Me paralisa
Nada mais importa, de qualquer forma nunca fiz sentido nenhum.
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
Verdade
Correndo atrás da própria sombra
Assombrada
Me persigo quando de mim tento fugir
Esmagada - periga eu nunca contar pra mim mesma em voz alta
Mas eu nem esperava menos, só escritas que me salvam da roda insana do esquecimento - eu lembrando vidas pressagiadas e mortas sou mais viva, nada importa
Que você não entre, que não haja mãos pra me abraçar - braços, almas, luares ou confins
Lembro e faço questão
Que me sobrevivo vivendo uma vida em paralelo
Só comigo e minhas sombras
Abraçadas sabemos
Que nos pertencemos e temos
E nada mais é sutil, tudo grita
Fluorescente como as cores da mentira
Assombrada
Me persigo quando de mim tento fugir
Esmagada - periga eu nunca contar pra mim mesma em voz alta
Mas eu nem esperava menos, só escritas que me salvam da roda insana do esquecimento - eu lembrando vidas pressagiadas e mortas sou mais viva, nada importa
Que você não entre, que não haja mãos pra me abraçar - braços, almas, luares ou confins
Lembro e faço questão
Que me sobrevivo vivendo uma vida em paralelo
Só comigo e minhas sombras
Abraçadas sabemos
Que nos pertencemos e temos
E nada mais é sutil, tudo grita
Fluorescente como as cores da mentira
sexta-feira, 4 de outubro de 2019
Vozes
Sibilando dentro da cabeça
Ouço vozes cantando em descompostos compassos
Zzzz
Zzzz
Zz
Vamos deixar pra depois, não tem abismo depois da queda
Nem vazio depois do medo
Não tem queda, só o luto, a dor e a ausência
Preciso exorcizar meus demônios, eles sobem nas paredes
Pouco mais me sobem na garganta e gritam pelos ouvidos
Quando eu grito, abafada
Torcem no eco atônito da solidão sem fim - uma multidão de ocos soltos
Multidões em mim
Presa na realidade infinita de tudo ou nada mais ser
Do que são os meus, mas eu sou feita de água
Sou afeita às palavras
Sou feto de frases sem cor
E culpas que carrego sem culpa
Pois me falta a parte que me cala
Ouço vozes, já não são as mesmas.
Zzzz
Zzzz
Zz
Vamos deixar pra depois, não tem abismo depois da queda
Nem vazio depois do medo
Não tem queda, só o luto, a dor e a ausência
Preciso exorcizar meus demônios, eles sobem nas paredes
Pouco mais me sobem na garganta e gritam pelos ouvidos
Quando eu grito, abafada
Torcem no eco atônito da solidão sem fim - uma multidão de ocos soltos
Multidões em mim
Presa na realidade infinita de tudo ou nada mais ser
Do que são os meus, mas eu sou feita de água
Sou afeita às palavras
Sou feto de frases sem cor
E culpas que carrego sem culpa
Pois me falta a parte que me cala
Ouço vozes, já não são as mesmas.
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