sábado, 13 de fevereiro de 2021

Papo reto na minha cabeça com o Caetano

O querer só pode ser um querer de si

Um querer querer-se tanto que tem que transbordar

Mas sempre voltar

Pra de onde todo querer sai

Quando transborda não é mais querer

E quando volta já não cabe mais


Por quê tentar controlar o que quer outro querer

Se no fim só podemos nos querer e a mais ninguém?




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Feno

 O paradeiro inalcançável

onde nos encontra enfim a cerca sob cuja sombra descansamos

poeira seca no chão, sépia

velhoeste

tudo o que poderia ser impossível está além desse limite

o filme rodando, a gente imaginando ser um personagem mas sem saber que do outro lado tem nada mais que a vida

que a câmera era também parte da ficção

e que o tempo todo encenávamos a nossa própria vitalidade que se perdia

ela ia embora

e nós pensávamos que era tempo que poderia voltar rebobinando a fita

mas dentro do filme da nossa cabeça já não havia cenário, era tudo um enredo sem sentido

a cena tinha acabado e a gente ficou sem créditos no final

levaram o mundo embora e ficou só o deserto, marrom.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Antes

Receber no correio uma carta e ficar contente como uma criança ganhando um brinquedo

Entrar em casa e ver que todos os seus sonhos foram realizados

Parece tanto brilho luz tantas cores

Deitar na cama de barriga pra cima e pensar em não estar mais aqui

Tão sólido pensa que tão ridículo pensar assim

Não tem pra onde fugir

Estar agarrada à vida como chiclete no sapato não largo não venha me tentar

Olhar pra seus silêncios e se permitir viver com seu monstro

Esse que te fala baixinho pra parar

E você olha pra ele como a criança que recebeu a carta mas não gostou do que leu

Sabe que logo ele tenta falar mais alto mas você está mais agarrada porque ainda tem uns sonhos de outras pessoas pra realizar

Parece confuso, viver assim com seu monstro que quer te comer

E você olha

Só olha

Não dá pra silenciar o monstro, quem sabe

Só olhar

Um dia ele para, mas aí já será tarde demais

E você já vai ter sido vida comida pelas beiradas até o miolo acabou

Porque era hora e não antes


sábado, 6 de fevereiro de 2021

O escuro e a lâmpada

mergulhar no ser como abrindo 

escancarando as tripas tremendo

na lâmpada acesa da necessidade precisando

continuar como quem morre

morrendo na vida brilhando

pra sair ilesa

fingida

como se nada tivesse aparecido nem ela

saindo de fino olhando para os lados

ninguém viu

segue

já não é hora a morte foi eu fiquei

e ainda estou

seguindo casca ovo nascida da lâmpada de novo azul

amarela

pra onde segue de volta ao contorno ruminar

a si mesma como consome

casca de ovo

regular

como quem cicla o mundo gere

grávida de lâmpada luz forma

quebra lâmpada gera mundo cabeça olhos

pensa mundo 

mundo explode

apaga 

segue

olha de novo ninguém vê segue

agora fios linhas ninguém vê segue

vermelha torta linha amarela

segue

ninguém vê segue

linha

siga finge sai torta olha ninguém

lâmpada

mundos

linhas