quarta-feira, 6 de julho de 2022

Sentidos

Se agarra no sentido que ela mesma inventa

O tempo todo pra se divertir

Pra se achar útil, pelo menos

Pra não achar que perde o tempo dos outros

Pra não se achar esquecível, no mínimo


E pensa que lá, do outro lado

Tem um espelho refletindo o que nunca se pode ver

O espelho do avesso pensado igual

Do contrário do que um dia

Imita a vida ela mesma no outro canto

Sumidouro, sumindo

Que é aí que o espelho faz sentido


No contrário, no avesso

No inverso inventado da cabeça

Lá dentro, ou lá fora

Por que o espelho é tudo e todo lugar

Ao mesmo tempo


Ela também imita a vida

Procurando 

Sentido


Memórias

Engolir a tua angústia

Beijar tua memória

De novo

Até virar um deserto de infundezas

Milhares

Tem vezes que esqueço quem sou

Perdida entre tantas milhares que me exigem ser

Que não dou conta nem de uma, quiçá mil

Mas que, no fundo, também quero ser

Todas as mil

E uma, se puder


Quase sempre meu querer não tem limite