terça-feira, 30 de agosto de 2022

Agonia III - Sereia

Tinha outra que era mexer o cabelo na piscina

E brincar que ele era uma sereia

Ou era eu? 

Quem seria?

Nesse caso, a agonia

Era sair da água e matar a coitadinha


Agonia II

Também tinha uma agonia

Que era imaginar uma agulha bem fininha

Um fiozinho quase invisível

Furando uma bola gigante

Os contrastes me admiravam

Agonia I

Quando era criança

Brincava de tédio

Olhava pro céu

E via nuvem preguiçosa

Imaginava estar lá em cima

Bem pequenininha

No meio das nuvens gigantes

Eu minúscula

Brincava de agonia


Fruta

Olha o tamanho desse cérebro

Parece uma laranja gigante

Mas não cabe nada que não seja

Imaginante

Agonia 0

Ninguém acredita no vazio

O vazio está incrédulo

Cheio de crenças ridículas

Escrevo para acreditar no que vivo

Em tudo posso ver poesia

Até no que não acredito

Releitura

Um rascunho

Algo que ficou guardado

Amassado no fundo da gaveta

Que volta à vida para ter seu encantamento

Pelos olhos de quem admira 

Tudo o que não sai de um papel


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Abraço

Quase um formigamento

A certeza de estar certa nesse momento.

Traço

Deixar a leveza me consumir em pedaços

Aos trancos barrancos me empurrar do penhasco

Sou fera ligeira saboto todos os passos

Entregue e presa aos teus possíveis abraços


Procuro nos olhos me despedir dos destroços 

Que dias de chuva desperdiçaram sem rastros

Murchando as flores dos destemidos negócios

De cântaros mágicos e disponíveis acasos


Sou planta rasteira farejo todos os ossos

Dos pântanos beira o invisível remorso

De tanta sujeira vai espalhando os caroços

De um mundo inteiro contrariando os esforços


Sou pedra, parada, festejo todos os ócios

Sem  ti não sou nada além de tudo no espaço

No afã de esquecer celebro cada estilhaço

De tudo o que temos e sobra só o bagaço





Espaço

Me reapaixonar pelas versões que cavo de mim mesma

Sentir novamente a vida dilacerando o sentido, não me deixa olhar pra trás

Acabo de renascer, já morro novamente

Mergulhada no tudo, a culpa, o caos, a confissão

Evapora, será que sempre fui eu mesma meu grande amor?

Estou fadada a cair por mim, em mim, sempre só

Fugindo de me perder daquilo que mais amo

Minha solidão


O conforto de não cumprir

O conforto de não caber

O conforto de suprir

As minhas próprias expectativas inatingíveis

Só eu mesma grande rainha

Da grande poesia da minha vida inteira

Por nada me trocaria

Por nada me deixaria

Jamais não me escolheria


Me quero e abuso da minha compaixão inconsumível

Nada é possível compatível tangível

Não posso, não deixo, nada mais vai entrar

Aqui me permaneço e esqueço

Que outro espaço não há


Cercada, nada será mais seguro

Que este meu próprio lar.