Tinha outra que era mexer o cabelo na piscina
E brincar que ele era uma sereia
Ou era eu?
Quem seria?
Nesse caso, a agonia
Era sair da água e matar a coitadinha
Tinha outra que era mexer o cabelo na piscina
E brincar que ele era uma sereia
Ou era eu?
Quem seria?
Nesse caso, a agonia
Era sair da água e matar a coitadinha
Também tinha uma agonia
Que era imaginar uma agulha bem fininha
Um fiozinho quase invisível
Furando uma bola gigante
Os contrastes me admiravam
Quando era criança
Brincava de tédio
Olhava pro céu
E via nuvem preguiçosa
Imaginava estar lá em cima
Bem pequenininha
No meio das nuvens gigantes
Eu minúscula
Brincava de agonia
Olha o tamanho desse cérebro
Parece uma laranja gigante
Mas não cabe nada que não seja
Imaginante
Um rascunho
Algo que ficou guardado
Amassado no fundo da gaveta
Que volta à vida para ter seu encantamento
Pelos olhos de quem admira
Tudo o que não sai de um papel
Deixar a leveza me consumir em pedaços
Aos trancos barrancos me empurrar do penhasco
Sou fera ligeira saboto todos os passos
Entregue e presa aos teus possíveis abraços
Procuro nos olhos me despedir dos destroços
Que dias de chuva desperdiçaram sem rastros
Murchando as flores dos destemidos negócios
De cântaros mágicos e disponíveis acasos
Sou planta rasteira farejo todos os ossos
Dos pântanos beira o invisível remorso
De tanta sujeira vai espalhando os caroços
De um mundo inteiro contrariando os esforços
Sou pedra, parada, festejo todos os ócios
Sem ti não sou nada além de tudo no espaço
No afã de esquecer celebro cada estilhaço
De tudo o que temos e sobra só o bagaço
Me reapaixonar pelas versões que cavo de mim mesma
Sentir novamente a vida dilacerando o sentido, não me deixa olhar pra trás
Acabo de renascer, já morro novamente
Mergulhada no tudo, a culpa, o caos, a confissão
Evapora, será que sempre fui eu mesma meu grande amor?
Estou fadada a cair por mim, em mim, sempre só
Fugindo de me perder daquilo que mais amo
Minha solidão
O conforto de não cumprir
O conforto de não caber
O conforto de suprir
As minhas próprias expectativas inatingíveis
Só eu mesma grande rainha
Da grande poesia da minha vida inteira
Por nada me trocaria
Por nada me deixaria
Jamais não me escolheria
Me quero e abuso da minha compaixão inconsumível
Nada é possível compatível tangível
Não posso, não deixo, nada mais vai entrar
Aqui me permaneço e esqueço
Que outro espaço não há
Cercada, nada será mais seguro
Que este meu próprio lar.