sábado, 29 de março de 2025

Baralho

Oráculo do silêncio - digite sim para: não

Escolha a melhor opção

Dentre os poemas que cabem no bolso de trás da nuca

Assim, te tornarás o sábio mais sábio em profundidades milimetricamente arranjadas pra ferir

Não, eu não quero dizer ferir

Quero dizer, ferrar

Agarrar, autópsia do medo de estar só

Nu - como sempre

O inferno é o limite e o tempo acaba aqui

...

O engano é todo nosso, meu caro porvir

Estamos todos girando, na fortuna roda que gira só pra nos esmagar

E contemplar a obra de sua criação plena dizendo: eu avisei

...

Isto não é um poema, é uma imagem santa

É um carro desgovernado

É uma taça de sangue pronta pra transbordar.


domingo, 23 de março de 2025

Me acusaram: POETA!

e foi o melhor presente que já me deram.

Aranha

Mergulhar no passado, o reflexo translúcido da lucidez inocente
Minha estrutura é de palavra
A linguagem é meu porto seguro
Edifico contornos ao passo que destruo as certezas

Sim, eu vou reescrever a minha história
Eu vou rever os meus pensamentos
Como sempre, a todo instante
Duvidando como artesanato de aranha
Pois só na teia da letra sou presa
E como nunca me senti tão livre

terça-feira, 18 de março de 2025

Descoincidências

Espremidos na certeza dos muros que se fecham
Um bate, outro apanha, ninguém perde e ninguém aprende
Ainda assim, gosto da gastura dos encontros que se arranjam
Gosto de lembrar do desencarne da poesia
Talvez seja essa, nossa grande história
Olhar de longe o que jamais coincide



domingo, 16 de março de 2025

Tobogã

Sem saber o que faço, escrevo. Aí é que eu me vejo realmente com essa tristeza toda essa tristeza alegre esse final sem fim. Sempre no meio, é onde fico e sempre titubeio. Tudo bem, ninguém mais espera nada, sou planta rasteira e me alimento do resto, tenho medo de olhar pra cima, tenho medo da cura, tenho medo dos símbolos que exageram a vista. A vista exagerada, gigante, a gente acha que viu mas achou errado. É bom achar errado, também. É bom que digam - você é triste - pra gente ser feliz sem medo. E depois ser triste de novo. Tipo um tobogã, a gente andando em espirais, a gente sendo gente e esquecendo que existe. É bom, também.

Viaja demais na própria ideia de ser intocável.

Esfinge

Eu era realmente tudo aquilo que a gente sonhava: invisível
E você é quem dormia e eu tentava me acordar sonhando
De longe, as coisas parecem parecidas
Mas não passam de enigmas, a mente não sabe distinguir futuro
Assim como o carro passa na rua ruidoso e eu acho que é o fim do mundo
Vou me proteger até o fim daquela coisa triste que parecia nos achar
Pois eu era realmente aquilo tudo: nada demais












domingo, 9 de março de 2025

Antídoto

Um dia me perguntaram
O que é o amor?
E eu não disse: o amor é um vento
Que passa quando a gente não está olhando
E leva o que a gente não está segurando

Eu não disse
O amor é a voz que eu não ouvi
Quando não estava dormindo
Porque estava gritando

Eu vivo não dizendo
Que o amor
É a bagunça da sala
A preguiça que estrala
E o silêncio que fala

Eu não disse
Eu jamais direi
Do amor eu não sei
Do amor me cansei

De tudo o que eu não disse
Um dia eu só quis dizer
O amor...
O amor é contraste.