quinta-feira, 31 de março de 2022

 E pequenas frases jogadas ao mar não mais chegam aos destinatários

Porque é assim e sempre foi que me prefiro

Nunca antes vista

Nunca antes lembrada

Porque é tudo uma loucura e não quero viver sendo esquecida como louca

Então prefiro não ser lembrada nem esquecida

Apenas, sida

 Esqueci de você até segunda ordem

Me reencontro com as sombras aquelas todas que nunca quero despedir

Me despeço do som que ecoa da saudade

A saudade que não existe

A saudade que resistiu ao fim dos tempos

A saudade que é a própria existência


Sigo seguindo os fios cor-de-rosa embolados dentro da cabeça

às vezes nós

às vezes mesmos fios

Por dentro só tinta de uma vontade de ser fios

Por fora só palavras e sentido


Tudo faz sentido e nada mais

Quero sumir de você

Quero sumir de nós

Que nada nunca existiu

Porque é sempre mais fácil fugir

E imaginar que eu nunca existi na nossa história


Mas que sombras tão obtusas

São elas

Que remediam toda dor

E causam todo desconforto

Absolutamente enclausurado na memória partida de tantas eus

Absolutas e obsoletas, todas juntas

Mas, não menos que elas, torpes

Esparsas, amarelas

São todas quem foram

Belas, jovens, soberbas e sábias de tudo

E sós

Sempre muito sós


Como sempre estou por vontade própria

Porque a mim mesma não ofereço perigo

Mais do que me aturar, e isso já é grande esforço


Me deparar com várias absolutas

Sempre absolutas e esquecidas dos outros

Imprecisas de diretrizes alheias

Não precisam de mais nada


Variam entre a preguiça e o desgosto

E as palavras me esquecem, finalmente, me esgotam


Eu esqueço que me prefiro sempre maior

Maior do que todas as outras

Esquecida da minha pequenez

Esqueço de não ser


Reencontro o cinismo de me esquecer

Sempre esquecer

Porque lembrar é sempre duro e original

E cansei de não me encontrar nas outras pessoas que sou