Me reencontro com as sombras aquelas todas que nunca quero despedir
Me despeço do som que ecoa da saudade
A saudade que não existe
A saudade que resistiu ao fim dos tempos
A saudade que é a própria existência
Sigo seguindo os fios cor-de-rosa embolados dentro da cabeça
às vezes nós
às vezes mesmos fios
Por dentro só tinta de uma vontade de ser fios
Por fora só palavras e sentido
Tudo faz sentido e nada mais
Quero sumir de você
Quero sumir de nós
Que nada nunca existiu
Porque é sempre mais fácil fugir
E imaginar que eu nunca existi na nossa história
Mas que sombras tão obtusas
São elas
Que remediam toda dor
E causam todo desconforto
Absolutamente enclausurado na memória partida de tantas eus
Absolutas e obsoletas, todas juntas
Mas, não menos que elas, torpes
Esparsas, amarelas
São todas quem foram
Belas, jovens, soberbas e sábias de tudo
E sós
Sempre muito sós
Como sempre estou por vontade própria
Porque a mim mesma não ofereço perigo
Mais do que me aturar, e isso já é grande esforço
Me deparar com várias absolutas
Sempre absolutas e esquecidas dos outros
Imprecisas de diretrizes alheias
Não precisam de mais nada
Variam entre a preguiça e o desgosto
E as palavras me esquecem, finalmente, me esgotam
Eu esqueço que me prefiro sempre maior
Maior do que todas as outras
Esquecida da minha pequenez
Esqueço de não ser
Reencontro o cinismo de me esquecer
Sempre esquecer
Porque lembrar é sempre duro e original
E cansei de não me encontrar nas outras pessoas que sou