Acordo de madrugada e nada mais faz sentido se não escrever
Sinto que silencio a mente quando provoco as palavras
Elas saem e algo dentro de mim se destrói
Pra talvez voltar com outros nomes, mas ir embora também
Desfazer-se delas mesmas, as palavras fogem aos sentidos
Alcançando algo que elas não trazem já na sua essência - a vida gigante que as ultrapassa
Sem palavras, volto à vida, ela mesma
Sendo algo inexplicável e incoerente
Pois nada supera o silêncio da existência em si mesma
Atendo às minhas próprias exigências
Sempre com muita razão, muito zelo
Cuidando de cada passo, tentando ser sempre mais para os outros
Menos para mim
Que sou algoz forte com cara de anjo
Uma angelicidade infinita
Um eterno - você é o que quer - dentro do que eu queira - e do que os outros esperam?
Amarrar-me a mim mesma
Novamente, pelo calcanhar
Que é mais difícil de alcançar, de qualquer forma
Nada mais me observa, por sorte
Já estou só nas palavras, após tantos anos
Finalmente, uma intimidade própria
Um descompromisso sincero, até onde caiba
Pois depois que eu for nada mais importa
E qualquer um pode dizer o que quiser com elas
Ou com o que elas já significaram um dia
Tudo morre
Pra onde vamos, depois?
Talvez para uma lembrança infinita de tudo
Ou um esquecimento total e abissal
Onde nem sequer se sabe que se esqueceu
Como agora
Pois me sinto esquecida, sempre atrás do que sou
Ou do que quero ser
Desejo
Impulso
Pulsão
A vida ela inteira
Quero sentir no corpo
O tempo
A alma
Tudo junto
Não perder nem um gole da vida mesma
Sorver até o fim
Viver para tomar
Deliberadamente, beber
Chupar, extenuar a vida toda
Queimar e arder
Enquanto isso, viver
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