Desde que eu gritei "não" e você gritou "NÃO"
Mais alto ainda
Bem sonoro pra toda cidade ouvir
Pra mostrar que o seu grito já estava lá
Bem antes do meu
Parei no eco do berro
Ouvindo as tuas vozes repetindo não não não não
E gritando ainda mais agudo Não MESMO
Pra ouvirem além do teu
Tudo o que era verdade na minha negação
Que você calou com nãos severos nãos
Incisivos, finais, conclusivos
Nãos mais fechados que abertos
Como se um não pudesse ter uma abertura uma passagem um portal
Pra o que quer que houvesse do outro lado
Um não mais colorido
Que meu ouvido captasse e quisesse interpretar
Um não talvez um talvez
Que não seja tão não que não se possa remendar
Mas ouvi ainda mais alto um não trepidar no céu do inverno
Cada vez que lançava meus todos nãos na possível visão que fazia da tua certeza tão precisa
Na espera da resposta ainda mais esgarçada de boca aberta que é mais um gigantesco NÃO sobre o parque inteiro
Nãos pichados na calçada no muro no mercado
Você colava cartazes cada vez maiores de não
Espalhava papeis pela noite caindo sereno frio e não
Eu gritava em intervalos curtos nã nã nã nã não jamais
Eu arrancava de mim os nãos que fiquei de te dar
De mãos beijadas nãos toma tudo fica com você
Assim ficamos quites e podemos seguir negando
Apostando
Pra ver quem grita mais alto
Em silêncio
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