domingo, 12 de junho de 2022

Atenção

Não me encontro onde me perdi

Ali já não estaria jamais novamente nem que insistisse

Não sou um gato


Te ver revela o mistério

E me dá mais angústia ainda

Não querer e não querer te ver

Querer não querer te ver 

As vozes, a adolescente que grita e esperneia

Quer atenção

Quer ser compreendida

Ela só quer

Atenção


Ela quer bajulação

Que seja amada

Como ninguém poderia

Ninguém é capaz de lhe dar tanto amor


Ela faz falta 

Nela mesma

Ela some

Nela mesma

Ela desaparece e volta a aparecer na vida adulta

Ela nunca sumiu

Nunca foi embora


Ela está ali

Você, desapareceu


Aparece através de outros prismas

De outros olhares

Aparece no labirinto de palavras e histórias com objetos

E tento te reconstruir dentro de mim

Dia após dia

Tento te refazer

Traçar teu trajeto

Estar em tuas horas

Presente

Pensante

Te desenho com minha memória

E não esqueço, não consigo

Te desejo pois desejo a mim mesma

Refaço nosso caminho

Nossa pequena tragédia cômica - era uma piada de mau gosto?

Rimos de nós mesmos e depois choramos

Como crianças histéricas que depois de um ataque de risos ficam incontroláveis

Gatilhos

Lembranças

Sentimentos

Tudo misturado na exatidão de haver perdido o nosso tempo

A culpa já não é quem me assombra

É a tua própria sombra me cutucando e me dizendo pra parar de te seguir


Não venha atrás de mim

Não me procure

Me deixe lamber minhas feridas


Tudo novo, e sempre é

Tão fresco novo surpreendente

O que você queria, afinal?


Você teve que me falar

Aquelas coisas todas que também doeram em você

Mas mais em mim

Sem dúvidas, mais em mim

Porque sou assim dramática

E tudo toma uma proporção gigantesca

Que toda a tua razão derrete por dentro de mim como um ácido quente

Me destrói e limita


Quanto mais me vejo, mais pressinto

Que crio e destruo pelo prazer de ver queimar

Porque nada teria o direito de existir além de mim

Tamanha a vontade de controlar o que me escapa

Tamanha posse do mundo, tamanho rancor

Que inexisto se não souber que sofro por nada

Pra caber nos vazios que me preenchem

Não faço sentido


Não te vi, olhei pra mim

Pensei que uma coisa que me faz sofrer tanto não merece que eu me arraste por baixo da terra

Já basta meus pés cansados

Já basta o silêncio que pesa 

Já basta o tapa na cara que é não existir


Me faço sentir pelo olhar distante 

Que talvez nunca exista

Insisto na imensidão do mar como a cura para os males todos

Ou a desculpa que falta pra me abster do impossível.


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