segunda-feira, 3 de julho de 2023

Solução

Vou jogar na lixeira

A palavra toda que te usei

Que eu era uma agora não

Sou entre meios de mim de que onde não era


Perdi minha dor

Onde foi que deixei acusada

Uma dor avassalada

Presa, num canto, ofuscada

Perdi o que tinha

E mais nada


Te dei um canto

Uma lôa

Uma aura de mil coisas boas

O melhor da minha sutil audição

O que olhei de você e captei

Te dei como quem sempre esquece

Que ver nem sequer se parece

Com a clara lembrança da aurora

Com os mil pesadelos de agora

Com a nua e real solução


Te dei e daria pra sempre

O que já não existe e não sente

A metade da minha enchente

A vazão do meu sim e meu não




Torre

Como te atravessar, nadando
Achando o meio do fio ao que você já desiste
Tentando
Puxar cada vez mais forte
A corda arrebenta em cada balanço
Eu, primeira
Pra me desbotar inteira em febre e ranço
Descanso
No viço aquoso do teu pranto-encanto
Me dá de beber, me aquece
Que despenca em vício o teu santo ofício
Despede
E ao rugir do início me excede

Segue

Pra fingir auspício, me pede
E não perde indício
Me fere
Sem calor, sem risco
Me fere
Sem sabor, é isso
Me fere.