segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Estação Tubo

De que me escondo

Se nada é invisível?

Estou espalhada como os livros no chão do quarto, amarrados pela trama das minhas horas terminadas

O caos busca sempre a verdade mais pura, o amor mais íntegro, a palavra mais gentil

Sou um buraco

Em mim se perdem o tempo e os olhares, aquela fatia de ar palpável que se forma quando não nos dizemos o que de nós queremos, o que realmente queremos é o sumiço do espaço entre nós, a abdicação da distância excedente, quero você me sendo e eu inteira na terra engolida como um traço do que um dia foi gente, a espera excelente por paz, o dilúvio do que uma boca pode engolir, a plenos pulmões gritando nessa vida ao avesso no cenário real que me trazem os sonhos. Eu sonho, toda noite, eu sonho. Multidões, ônibus, a cidade, tudo me povoa. E eu grito dentro do grito pelo prazer que dizem que a falta vai me trazer, sou agora um fantasma e tudo já ficou para trás, não há saídas deste mundo inventado. As grades são meu grito. A fome é grito. A saudade é grito. Eu grito ainda sem som mas também não me solto das prisões criadas como enigmas: grita-me ou te decifro, deixe-me existir, devora-te. Vejo uma estação tubo agigantada, o MON está enorme, eu estou tão pequena? Penso, mas se tudo isso eu estou criando? Quando isso tudo começou? Como tenho tanta certeza de não estar acordada? Às vezes acordo mas me enganei, e estava novamente dormindo, acordando dentro de outro sonho e mais outro, até não sobrar nenhuma dúvida. Grito e duvido, grito e duvido, assim indefinidamente. E, quando finalmente assumo as rédeas de um prazer desconcertante, onírico como deve ser, me firo de verdade, deixo que me assumam como parte de um pesadelo, sou a única dona deste enredo. Há quem discorde.