domingo, 10 de março de 2024

Oxigênio

Movimento em ondas, fluxo, impermanência

Experiência da consciência

Trago em mim o universo e aprecio a paciência com que o tempo me maltrata


Calma, me despeço em cada instante

Cada eu no entremeio, sempre aflita e sem receio

Sirvo ao meu comando e ao meu sabor de seguir viva

E levo 

A cada segundo meu corpo, dou um passeio

Peço mais alma, de tudo pra encher meu copo cheio

Leio

No universo meu livro até o meio

Na palavra, destino e devaneio






quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Bonsai

Amar a solidão como quem ama o amargo do seu prato preferido. A solidão, a impermanência dos momentos, a dissolução da razão que teima em antagonizar tudo: sentimentos, sensações, pensamentos. Nada é tão duro que não possa ser imaginado, nada é tão absurdo que não possa ser escrito. Até um certo ponto, isso se limita apenas ao caos que transforma tudo em tempo. Antagonizo e dissolvo minha linguagem no caos. Comemoro a existência silenciosa da multidão em mim. Múltiplas, a celebrar e vida num ritual de resistência, camadas de barulho e muita palavra, quando só o silêncio comete o maior crime passível de ser perdoado, o de existir em tudo sem ser anunciado.

Telescópio

 Vou te escrever até você sumir. Sempre o melhor termômetro pra medir o tamanho da dor. Quanto mais escrevo, menos dói. Por isso, gasto alguns metros ou quilômetros de palavras só pra poder te ver indo embora, devagarinho, despovoando a minha mente. Você leva a sua trouxinha no ombro e me deixa cada vez mais tranquila, só, com a única trilha por onde posso caminhar. Meu olhar avança através do espaço e o seu rastro enquanto se afasta é o que mantenho de vida, meu olho treinado pra te ver cada vez mais longe e o percurso cada vez mais longo. Assim, você também vai ficando pequenininho, até caber numa leve coceira, uma cócega de melancolia que se esvai com um sopro mais profundo ou apenas um piscar de olhos, sorridente ou não. Quanto a isso, a escolha fica comigo. Tudo pode depender do meu foco.

A mudança

 Aprendi a soltar quase como um vício. Usei o desapego pra não sentir tristeza. Fui diretamente para o lado da indiferença total. O meio é tão difícil...sofrer como quem ouve uma sinfonia, sorrir como quem sente dor. Talvez um jeito seja nem anular, nem se identificar. Observar. Como quem observa os personagens de um filme sem confundir suas histórias com a realidade. Viver os sentimentos, mas entender que eles são muito mais sintomas do que sentenças. Sigo voltando pra esse lugar obscuro, que me desafia sempre a observar com olhar relaxado. Só olhe pra isso, deixe ser. Vai passar. Enquanto não passa, aproveite o caminho e tire bons frutos na beira da estrada. Mesmo o pior caminho te leva pra algum lugar. Talvez esse seja apenas mais um passo no longo percurso de se amar. Se amar requer coragem. Muito mais coragem do que fé. Vai passar. Não tenha pressa, a ansiedade só vai fazer a dor durar mais. Enquanto doer, será um sinal de vida, de movimento. Enquanto for prazeroso, também. Tudo muda, e essa é a única verdade possível agora.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Navio

Comecei um novo projeto: não me proibir de ser impositiva. Controle a sua língua, a sua fala, aprecie a bela miragem. Tudo passa na minha frente como um filme e sou protagonista e atriz. O filme fala do tempo. O filme fala de futuro. O filme fica no passado. Passou.

Um dia eu vi um filme - passava no tempo e ficava nos dias. A música também fica nos dias, ela muda, eu mudo. O melhor de dois mundos, eu e meu filme, a trilha também compus. 

Sair da mente pra cair no fio da escrita - tinha quase esquecido da âncora que me sou capaz de tecer.

Ainda sei.

Sentir.

Por um momento achei que não sabia, ou achava que sabia mas não sentia, ou sentia que sabia mas não achava. Tudo é questão de se perder.


Movediça

Acordei hoje, parece que ainda é ontem.

Quantos dias cabem em poucas horas?

Sem consolo, mais um amor que nasce pra se apagar, o fluxo da vida acontece, já foi, ainda é. 

Não me agarro, me seguro só ao que me é impermanente pra assumir as rédeas do descontrole.

Passo de um ponto a outro no mesmo instante, instável areia movediça que só me joga pra fora de mim. O tempo todo preciso voltar. Preciso andar voltando.

Força centrípeta, luto com forças pra não ficar tão longe do centro, sempre esperando mais de mim e mais do que me conheço. Sei que tem dor, dói, deixo doer à beça. Como não deixar doer?

Deixa. Só me deixa doer. Logo passa.

Sei

Ainda sei sentir

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Riso

O riso aquoso e me acabo em sólidos desejos

A espera, o fim para um início

Penso que descanso mas quando vejo amanso

A fúria de me deixar fluir no tempo

A raiva com que me desencanto

A calma, teu espanto


Nada é tão confuso e certo 

quanto o cheiro que me seduz enquanto

Rodeio e creio tão isento

Teu rosto, teu riso branco



quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Dados

Não posso te receber
Do que você não pode me dar
Não espero nada mais do que tudo que me dou
Me dou 
Pra mim
Que é quem mais me interessa