O vento que bagunça meu cabelo
O mesmo ar
Odores, ruas, luz do sol
São os mesmos de anos e vidas atrás
O resto dos dias ainda têm o mesmo êxtase sublime de minha infância
Minha infância inerte
Minha doce e curta - infância inerte
Me vivi como em dias frios, tremendo por cada músculo tenso, batendo dentes e esperando um verão descalço
Me vivi como num filme
Eu protagonista de um lugar, uma praça, uma água qualquer
Num instante eterno, o mesmo da foto, o mesmo de todos
Pois tudo lembra, menos a água
A água foi feita de esquecimento
E para o nada corre, como se corresse para o colo de si mesma
Não corro, pois não me sobra mais tempo
Um momento tenho, menos vida, no entanto
Nem segundos, nem dias - nada devolve minhas pequenas horas
Minhas vidas, imagens inversas, as calmas e descasos, os prantos e acasos
E em nada permito ver
Minha própria figura inventada
Frente a recortes e colagens
E um passado tão recente que me toca os ombros
Me embala e pressiona contra o muro
Me derruba
Me desgasta
E me liberta.
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