Assim, todo dia, eles se olhavam. Em parte porque se gostavam. Em parte porque estavam fatalmente atraídos um para o outro. Ímãs - não mais humanos.
Assim, todo dia ele lhe afagava a nuca e ela sussurrava em seu ouvido que nunca vira tão lindos olhos. E seus olhos lhe diziam coisas...ah! Como diziam! Via toda sua história ali girando, perdida. Ouviam-se, mas não diziam-se pois sabiam-se plenos no silêncio fatal. O silêncio - como um punhal. Arrebata os ouvidos e agride nos momentos mais sutis. O silêncio...precede as catástrofes, as explosões.
Em silêncio, seguiam amados e desdenhosos de si mesmos. Entregues ao abismo. Entregues ao amor.
Em silêncio, o que mais falava era a incredulidade de terem se achado, os dois. Por quê não o mundo inteiro? Assim, haviam achado o universo. Seria verdade? Ou apenas haviam achado uma chance de adivinhar silêncios, arriscando errar e no fim descobrir que achavam que haviam achado o que queriam?
Assim, também, achavam o tempo todo um motivo para não crer, achando que aquilo era real demais.
E achavam aquilo tudo muito estranho.
E o silêncio fugia, como eles, do ruído da vida.
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