terça-feira, 16 de novembro de 2021

Bebês

 No final tudo disso era pra você

Te dou este presente para a posteridade

Que só nela cabe qualquer poema

Só no depois

A poesia é um berçário de palavras póstumas

domingo, 10 de outubro de 2021

Lembrança

Sou fácil e firme que esqueço sempre à revelia

Esqueço do apreço não tenho palavras pra toda empatia

Se lembro de coisas reais só através de outras falas tardias

Na minha cabeça palavra não fica e esqueço se algo fazia


Esqueço que lembro só do que me dói e vicia

E lembro que o preço que pago é talvez esquecer desse dia

Sou fácil e firme que esqueço que raiva sentia

E esqueço que lembro que além de raivosa também te esquecia






A ciência me iludiu

Já esqueci o que ia falar

Não era pra você, também

Era pra nós

Que esquecemos sempre do mais importante:

entender.

(Acrescente aqui sua expectativa)

Não dar conta de si quer dizer se deixar encantar

Não dar conta de si quer dizer se deixar viver

Eu não dou conta de mim e do que vou ser

Sou a loucura por trás dos olhos de quem me seguiu

Pra saber que nada importa que somos loucas no final

Ninguém é normal


Fazer as pazes com o não ser também é amar

Me dar conta de que vai acabar

Derreter

Ao final, ninguém vai me julgar

Também vou embora

Também vou voltar

Também vou embora

Também vou voltar

Também vou embora

Também vou voltar.


Sumidouro II

Agarrada a um pedaço confuso de algo gigante e inacessível



Refúgios

Sem saber os limites, foi diminuindo até que sumiu

Isso não é um poema (ainda bem)

Eu não sou companhia melhor

Do que você mesma em solidão


Ficamos sozinhas na noite

Todas nós harmônicas

Somos calmas e fáceis de lidar


É fácil mudar um pensamento

Assim, tranquilamente

Como quem nasce

Como quem morre


Apenas por saber

Que não vale a pena

Endurecer e invejar

O que não faz parte do teu mundo

Deixar ser


O que não com você não tem mais a ver

Que nada além de você te concerne

Se ocupa da tua loucura

Se mistura com a tua calmaria

Mescla

Só com a tua própria imensidão







sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Não há diferenças entre loucura aceitável e o que já não suporta ser poesia

 E nós não nos cabemos, para o bem de toda história humana

 Tudo isso, também somos nós

Estou preenchida da falta que já não existe

Não posso caber em uma pessoa

Torturar o que já existiu demais

 Insistir também pode ser existência

 Sempre torturar com a minha insistência.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Às vezes o final é sempre

De que tantos finais precisamos, afinal?


Estilhaços

O cair no abismo gera um susto em espiral 
Rodando a cabeça não descansa precisa do chão
A única fonte de segurança onde se desdobra o peso sem vão
Espalhando a luta de se unir ao impossível final

domingo, 8 de agosto de 2021

 Se me ausento da palavra

Habito o indizível

 Gosto assim: sem ninguém pra me salvar do afogamento entre as palavras.

Descubro que o som das ausências

Preenche estádios

Cidades

Ou uma vida inteira





terça-feira, 27 de julho de 2021

Atrás da nuvem pra me esconder de setecentas ameaças muito próprias de uma imaginação muito fértil.

Essa vai pra nós

Que dançamos ao som dos nossos passos

Sem lembrar que amanhã

Somos sombra 

Vão

Espaço

A demarcação dos infinitos

Pode ser a linha transparente do não-limite

Ou a infinitude de todos os momentos

Um abraço sem fim

Decalcado pela impossível presença

Assim como todo o tempo existível

Pode estar contido na impermanência

Ou até 

numa eterna 

ausência


quarta-feira, 7 de julho de 2021

Mira

E agora onde estou

No alvo de tudo o que busco

Sempre com a mesma avidez de quem evita



domingo, 27 de junho de 2021

 Aceite me enlouquecer.

A rachadura (o ruído)

 De volta à semiótica dos silêncios e do que eles temem recalcar: o próprio ruído travestido de obsessão do que eu não posso imaginar. Se eu talvez em línguas mais neutras conseguisse falar? não.

O que me domina é a pura construção do conhecimento: a linguagem - nela sou livre, porque tão limitada, a falhar.

No fim do plano deu tudo certo

Olha só comecei criticando o que eu mesma estava esmerando criar pois parecia mesmo um plano infalível. No entanto aqui estou me entendendo com o outro invisível que não precisa se manifestar. Quem precisa de planos, afinal?

Balinhas

E teço fios invisíveis algoritmos recalcados me mostram uma realidade que não queria inventar. Ninguém ouve o grito, a terra agoniza derrete mas estamos aqui no fim do meio que é o início de um nunca que ousa acabar. Acabo todos os dias por me exterminar e passar por cima de tudo o que imaginava poder criar. A realidade. Ela me esmagou mas tem uma coisa ali dentro ainda que não caramelizou. Caramelizar parece um bom princípio de fim pois depois de acabada a coisa ainda vira algo lindo de tão brilhante e ainda doce. 

Um convite à fuga (ou à solidão)

Não sei da leveza que inventaram 

Sei da ausência a que me obrigam

Os fins os meios a natureza moderna:

Aqui nada há de me faltar


Pulemos todos num grande guarda-chuva

Vamos nos deixar afogar

Tudo o que nos falta um dia sobra

E vai acabar


Aqui me encontro pra não me perder

Que só me entende quem se confunde

Ou se ofende

Porque sentir já hoje é passado

É de quem já vive meu presente.






A própria voz da terra tremendo no meu estômago

 Uma montanha: estremece a voz por dentro

 Como ressona em mim teu ruído ensurdecedor

 A semiótica dos silêncios

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Pescaria

Desenredo quando sinto que vem

Nadando pelo rio um peixe bem grande

Uma ânsia pra jogar pra bem longe

Nada mais que um impulso de mentir


Mentiras têm cabeça pequena

O pulso grande, enforca o peixe

O corpo ausente que já aflora

Mentiras são puro devir


Não falo em nada do que penso

Que minto da rima seca no olhar

O rio sem balanço não chora

O peixe já deixou de existir.



Geladeira

 É só uma brincadeira e me arrefeço

Sabendo dos olhos gelados em mim maçã

Vergonhoso estado de inocência

Ou total conhecimento de tudo.

Cometa

 Ao abismo 

Quando tudo derrete

Eu precisava saber

Que me sigo sozinha

Como sempre fui


Que me marca a pele

Que me aperta o pescoço

E sigo só

Como sempre fui


Derreto ao sinal de fogo

Pairando nua nas estrelas

Sou fogo ardo

E me sinto só

Como sempre fui


Em mim habita a loucura

Que ao nada me jogam

Como ao espaço pois ainda não me sei

Nem ouso

Pensar que conheço

Melhor minha vida ainda só

Como sempre fui


Estrato, passa

A dureza da queda

Tão rápida um cometa

Pra voltar meu chão cabeça

Sozinha e só

Como sempre fui.



segunda-feira, 21 de junho de 2021

Coerência

Já tão acostumada 

a me apoetar como realidade

que já não me admito

em linha reta conversar:

ou estranho no delírio

o que disserto errado sempre voltando

ou invejo o belo livro -

presságio infinito da divina coerência

que penso só existir nos outros

em mim nunca, jamais


Poesia é vitrola estragada

O conjunto da obra é que é singular








segunda-feira, 7 de junho de 2021

 Normal é passar pelo futuro ilesa

 O que quero dizer não diz mais nada

 Só escrevo sobre o que cabe no meu dedo

De dia

Ouvindo o som do que entrego parece

Tudo o que fica esquece

Que perece

Estamos já sempre sozinhas

Nós duas caminhando

Ela fia por entre as teias falece

Revive pra mais uma carreira endurece

Enlouquece


Me puxa pela mão, floresce

Engendra o invento ao pé do esquecimento

Pra me dizer que passa

E amanhece


domingo, 6 de junho de 2021

É vazio

O que sinto já sou eu.

Colosso em miniatura

Na minha cabeça tem estrelas

Na minha cabeça explode o movimento

O respiro de ser eu em meio ao derretimento da aurora

O corpo de estar em mim quando o pensamento se extingue

E bruta a dureza de um ar não respirado

Um tremor não aplacado

Uma súbita noção de cansaço após a morte

Que só tempo de viver na outra vida é o que cabe

Depois que o nada vira sentido e tudo faz som, ruído

Movimenta vira quem não gosta do que sinto e me atira

Impávido

Pequeno, sem saída.



terça-feira, 1 de junho de 2021

Visão

Quem nunca olhou pra montanha detrás dos meus olhos não sabe o que esconde

A neblina fosca no fundo da cabeça vapor

Uma cor bem quase nada 

Não nítida

Mas por trás da montanha escuro

Um vale nem eu sei o que vai porque nada volta de lá

Vem um segundo ele-eu que sou subindo

Tentando me agarrar na bordinha da ponta com neve e tudo

Olhando pra baixo pensando em escorregar talvez quem sabe

Olhar

Pra fora do olho quem vê já não me enxerga

Sou eu olhando pra trás de outra montanha agora salto

Eu-ele pulamos pra dentro de outra miragem

Nos atiramos no precipício 

Engolidos pela sede de sermos vistos

Lá no fundo, deglutidos

Misturados ao que outra visão carrega

Já somos parte da paisagem

Estamos ali habitando

Esperando o dia que seja

De enxergar o sol por trás da nuvem.



domingo, 30 de maio de 2021

Plateia II

Troquei as palavras vi que era engraçado e deixei assim

Esse foi o objetivo

Rir de mim.


Vou partir mais algumas vezes

Chegar cansa rápido.

Movimento

Saber sair quer dizer esperar

Ficar indo embora

Que assim sempre indo pois voltando

Nunca deixa nada a desejar


Chegar partindo

Quer dizer nunca estando

Ou entrando na saída

Caminhando se parar


Mas se em tudo demorando

A velocidade ao passar

Algum tempo dimensionando

Tem a duração de um lugar.







quinta-feira, 20 de maio de 2021

Os amores românticos cansaram de mim.

Catarse

 Do sentir verdadeiro momento aqui agora:

Será que eu sonhei que escreveria isso?

Amizade

 Espanto 

Vozes que dizem tudo o que eu já sabia

Ainda não me achei

No emaranhado da tua cabeça



quinta-feira, 6 de maio de 2021

 Quero fugir daquilo que a tua vista toca.

 Gaiola sob medida: tudo o que o teu olhar alcança.

Um lugar que só pode conter o impenetrável.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

 E aí me disseram pra coletar tudo o que se relaciona com o peso que carrego: junta tudo e dá uma olhada?

Bem complexo, isso aí.

Timeline

 É só olhar pra minha linha do tempo:

sou uma farsa.

Algoritmos e mensagens

 Em tudo o que me transformo

Nada resumo.

 O sumo resumo do que deixo de ser:


Vários nadas.

Lar

 Luz híbrida retorna ao não voltar.


Que brilho ultrapassa o sonho ao acordar

Acordando de um relance: a noite solar.

Lunar

 E volto.


Ao retornar descrevo o caminho por onde passei

Tentando dissolver o fóssil, ele não está mais lá

Só o fóssil do fóssil, assombra a me sombrar

O fóssil do fóssil do fóssil reslumbra resquício

Idade lunar

Parede entre encarnações: me segue até lá.

Quem sabe nos encontramos 

Num outro lugar?


Embaçado

 Tive que voltar.


Porque sempre me chamam pelo nome que é um fio

Ainda linhas escrevo dentro da minha cabeça ao deitar

Que ainda fios me seguem sem eu deixar

Porque não deixo

Acordo e ainda sou o que sonho ao sonhar

A verdade mais límpida, a que não posso enxergar.


quinta-feira, 1 de abril de 2021

Poeira

Hecatombe branda
A humanidade
Machuca ao longo
Quase sem ver
A própria marca de nascença

Uma bagunça
Uma febre
Um estupor geracional
Florestas de árvores genealógicas
Disseminadas como ramos e suas raízes
Bem embaixo dos nossos narizes

Cérvix
Do vidro ao verme
Viemos do mesmo cerne
O átomo neutro, a explosão
A história
Que me conta a poeira cósmica entre os dedos

Na raiz do meu cabelo está o nervo
Me leva ao deus-erro
Esse que eleva os fracos à força divina
E suprime a constância firme do zelo
Para tudo mesclar, estamos sempre

Numa bomba-relógio
Prestes a estourar.

Escala

Eu olho pra ela e rio ela sou eu

Aos 13, 14, 17 anos até 44

Ela não era, ela sou eu

Segue sendo ainda que pensem que não 

Me toca porque não houve assim uma cerimônia de encerramento da adolescência

Nem da infância

Nem de mim aos 20 inteiros gastos com pena delas todas

Se repetem, ano após ano

Olhando por cima do ombro para trás e achando que virou outra.



Fala

Como caindo no exercício de se mirar

Carnivorando a respiração precisante de perdurar

Se pendurar na anatomia do fio que liga a vida e desliga a dor

Alongando na sálvia saliva do perfume flor


Mais uma vez, espectro

Transduto de coices metálicos ao lado de todas nós em fases semi-bucais

Lâmpadas (outra vez) me lâmpadas - me limpe 

- Todo borrão espera seu coito, sua malícia viva na pedra olho vulgar

Mas me mate-me de tanto esperar - a vida me intempera


Poesia é idioma nuclear


sábado, 13 de março de 2021

Bandeira

 Desenrolo o pano sobre a mesa e penso: aqui já caminhei

Meus pés atolavam pesados na culpa e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito

Hoje as nuvens pesam embaixo e não sinto nada além de frio

Que a estratosfera é densa e cálida ao contrário

E aqui me jogaram quando me olhei no espelho e enfrentei o medo 

Aquele medo maior

Que agora é luz no fim do meio

Derrubado na minha cabeça porque dele não desapareço

E colapso junto com um país pelo ralo

Colando restos para sobrar no ano que vem.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Papo reto na minha cabeça com o Caetano

O querer só pode ser um querer de si

Um querer querer-se tanto que tem que transbordar

Mas sempre voltar

Pra de onde todo querer sai

Quando transborda não é mais querer

E quando volta já não cabe mais


Por quê tentar controlar o que quer outro querer

Se no fim só podemos nos querer e a mais ninguém?




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Feno

 O paradeiro inalcançável

onde nos encontra enfim a cerca sob cuja sombra descansamos

poeira seca no chão, sépia

velhoeste

tudo o que poderia ser impossível está além desse limite

o filme rodando, a gente imaginando ser um personagem mas sem saber que do outro lado tem nada mais que a vida

que a câmera era também parte da ficção

e que o tempo todo encenávamos a nossa própria vitalidade que se perdia

ela ia embora

e nós pensávamos que era tempo que poderia voltar rebobinando a fita

mas dentro do filme da nossa cabeça já não havia cenário, era tudo um enredo sem sentido

a cena tinha acabado e a gente ficou sem créditos no final

levaram o mundo embora e ficou só o deserto, marrom.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Antes

Receber no correio uma carta e ficar contente como uma criança ganhando um brinquedo

Entrar em casa e ver que todos os seus sonhos foram realizados

Parece tanto brilho luz tantas cores

Deitar na cama de barriga pra cima e pensar em não estar mais aqui

Tão sólido pensa que tão ridículo pensar assim

Não tem pra onde fugir

Estar agarrada à vida como chiclete no sapato não largo não venha me tentar

Olhar pra seus silêncios e se permitir viver com seu monstro

Esse que te fala baixinho pra parar

E você olha pra ele como a criança que recebeu a carta mas não gostou do que leu

Sabe que logo ele tenta falar mais alto mas você está mais agarrada porque ainda tem uns sonhos de outras pessoas pra realizar

Parece confuso, viver assim com seu monstro que quer te comer

E você olha

Só olha

Não dá pra silenciar o monstro, quem sabe

Só olhar

Um dia ele para, mas aí já será tarde demais

E você já vai ter sido vida comida pelas beiradas até o miolo acabou

Porque era hora e não antes


sábado, 6 de fevereiro de 2021

O escuro e a lâmpada

mergulhar no ser como abrindo 

escancarando as tripas tremendo

na lâmpada acesa da necessidade precisando

continuar como quem morre

morrendo na vida brilhando

pra sair ilesa

fingida

como se nada tivesse aparecido nem ela

saindo de fino olhando para os lados

ninguém viu

segue

já não é hora a morte foi eu fiquei

e ainda estou

seguindo casca ovo nascida da lâmpada de novo azul

amarela

pra onde segue de volta ao contorno ruminar

a si mesma como consome

casca de ovo

regular

como quem cicla o mundo gere

grávida de lâmpada luz forma

quebra lâmpada gera mundo cabeça olhos

pensa mundo 

mundo explode

apaga 

segue

olha de novo ninguém vê segue

agora fios linhas ninguém vê segue

vermelha torta linha amarela

segue

ninguém vê segue

linha

siga finge sai torta olha ninguém

lâmpada

mundos

linhas






sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Contrastes

 Por ser escura assim tão contrastada com o dia 

Vejo claramente a sombra de um futuro brilhante que passou 

Foi futurar em outros passados e não ser pra outras gentes

Deixou só um vento com cheiro de nada

E um vapor com gosto de tudo


Deve ser assim que o futuro vê a gente: uma sombra pra dar risada

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Petisco

 Hoje eu mordi o nariz de uma vampira

Mas foi bem sem querer, ela que me deu uma narigada, na verdade

Eu só ia abrir a boca pra falar

Mas na hora acabei mordendo mesmo

Acontece.

Estado

Hoje em dia todo mundo é feito de sumiço
Ninguém está onde está ou se está está meio que não estando
Porque ninguém quer estar onde está porque estar aí não é tão legal quanto estar em outro lugar que talvez ninguém saiba onde é
Estar já foi mais descolado
Será que alguém às vezes está mas pra se enturmar tem que fingir que não está ou parecer que está estando só um pouquinho?
Será que estar é o mesmo que não estar mas se esforçar pra fazer os outros acreditarem que está?
Quem está, afinal?