sábado, 14 de dezembro de 2019

Ainda fios

Escrever me torna o que sou. Puxando o fio do emaranhado esquecimento me torno o que escrevo, pra fazer referência a algo fora de mim. Escrevo além do que penso, mais além ainda sou o que penso que escrevo, pois leio mais tarde e me permito ver a mim mesma em outras dimensões do tempo que no momento em que aparecem no mundo seriam impossíveis de interpretar. Antes da escrita, tendo a achar que tudo é muito grave. Quando leio, é impessoal, é passível de todos os erros e acertos do mundo. É permissível. Posso ser um holograma escrito saindo do centro da minha mente, ou tirar as vendas dos olhos no instante de calcificar pedaços do que sinto em preto e branco, bem na minha frente, o instante que foi. Então sou o que eu era. Ou ainda não escrevi tudo o que já fui, pra seguir sendo mais e mais diferente de tudo o que já conheci. Me escrevo íntegra e cheia de buracos. Aceito que não sou e sou, tudo ao mesmo tempo.

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