Abriu a porta do quarto, avistou a pilha de roupas. Lá estava ela, sentada ao pé da cama revirada, olhos borrados de chorar, lábios vermelhos e cabelos desgrenhados, imprecava contra a humanidade. Não era compreendida, essa pobre mulher. Esse podre homem, que tanto mal lhe fazia, era amado de forma doentia, era perseguido, sonhado, venerado, idolatrado. Odiado.
Ao final do terceiro dia, ele entrou no quarto. Ela se jogou a seus pés como um náufrago se agarraria a um pedaço de madeira, beijou seus dedos, amou. Ainda assim, ele não a perdoava por ser quem era - ela, tão louca inconstante. Ele, tão inteligente e superior a qualquer sentimento mesquinho, limitou-se a dizer um "bom dia". Juntou a louça suja do quarto, as meias, os papéis rasgados e encharcados do choro da bela moça; olhou e sorriu.
Esse sorriso iluminou o sorriso do lixo humano que antes se encontrava largado à poeira e aos ratos. A luz saiu dele, entrou nela, transpassou encarnações, ultrapassou a barreira do som. Alumiou-se uma faísca de mulher na coisa que era.
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