terça-feira, 31 de agosto de 2010
Receita do dia
Olhou para todos os cantos da cozinha, procurava a espátula de metal. Daquela velha mosca, sempre a importunar, já conhecia os caminhos e vaivéns, sempre o mesmo itinerário - bancada, cadeira, fogão, topo da geladeira, de volta à bancada. Acendeu o fogo, preparou a fôrma, espalhou a grossa pasta branca no recipiente. O relógio marcava incessantemente 17:34 - 17:34, sempre em hora, nunca se atrasava. Lambidas nos olhos de mosca que morde o pão velho. Mordidas no pé do preto fogão do chão úmido de lajotas amarelas. Carne crua. Carne vermelha, vermelha - sem gordura, era muito mais saudável. A panela em riste, colher de pau, alho, cheiro-verde, manjericão. O molho era o sumo do sumo do crepitar nebuloso de seu mais íntimo pesar. As lágrimas eram de cebola, o fogo ardia em chamas azul-antigo (às vezes lhe passava alguns conselhos inúteis) e os restos jogava na pia, como se esta fosse o receptáculo mor de sujeira gosmenta. Ao atirar as lascas de orégano, um sentimento inefável percalçou um suave domínio sobre todo o ambiente. A música que emanava do óleo borbulhante lhe incendiou, o sabor ritmava em todo seu sangue. Começou a dançar, e não parou até que a sua batata terminou de assar.
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A corja.
ResponderExcluirQue coisa.
Linda!