sexta-feira, 23 de abril de 2010

A luz

Um dia Dora chegou em casa mais cedo e encontrou tudo diferente. Os chinelos, mesa, cama, óculos, livros, todas as coisas fora do lugar. Seus CDs e discos não estavam no local de sempre, suas roupas penduradas no teto, a máquina de lavar no banheiro. Um arrepio escalou sua espinha, pensou em assalto. Pensou alto, pensou...lá fora piscavam as insistentes luzinhas de natal e a vizinha estendia despreocupadamente um tapete na janela. Enxugou a testa, refletiu...estava parada na sala, pronta para colocar tudo no seu devido lugar quando, subitamente, surgiu uma luz intensa, brilhante, amarelada, que pairou no recinto como um grande fantasma e logo pousou sobre a mesa de centro. Abismada, Dora apanhou um pedaço de gengibre que por ali passava e mascou sem receio. Aquele bolo de taturanas não lhe havia feito muito bem, com isso chegou à conclusão de que passava por uma fase estranhíssima de sua vida. Seu filho lhe roubara, um mês antes, todas as forminhas de pão-de-queijo (que algum tempo depois ela descobriria serem trocadas por carne moída no açougue) e sua tia do interior vivia lhe telefonando para tentar passar um trote dizendo ser da Polícia Federal. Essa grande luz repentina era, no mínimo, interessante.

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