quinta-feira, 29 de abril de 2010

Próxima parada

As costas da senhora doendo, os cabelos do moço chacoalhando, as mãos fortes do pedreiro segurando no alto. Entram bolsas, saem guarda-chuvas, entram pacotes, saem celulares, bonés, óculos e todos os acessórios necessários para uma viagem por Curitiba. A chuva torna tudo mais dramático e abafado, janelas fechadas, cabelos molhados, pés pisados e barrigas encostadas intensificam a sensação de desconforto dos passageiros de pé. Aos sentados, resta a solidariedade pelo esforço dos outros em segurar-se nas curvas, evitado por alguns ao estarem tão esmagados a ponto de não terem que se apoiar em nada. Lá de longe eles se vêem, cada um a seu tempo, e dão graças a Deus por estarem a certa distância. Ela não tem que desligar o MP3, ele não terá que parar de pensar na prova de amanhã. A conversa não existirá, mesmo quando o biarticulado estiver mais vazio. Ela olha o horizonte cinza, ele observa um velhinho que reclama da artrite com uma dona de casa. Ambos pensam em quão falsamente se comportam; até que se gostam, não acham defeito algum no outro. Mas não dá pra conversarem a sós. Não mesmo! Ela torce para que ele desça logo, ele para que o tubo da moça não demore em chegar. Assim, interagem mostrando compreensão - justificam-se com diversos argumentos, entre eles o de que não se viram - e indignação - ele/ela não veio falar comigo, eu devo ser uma pessoa terrível mesmo!

Foi a viagem mais longa do dia.

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