Um dia, me fiz bem pequenininha. Assim, pude caber em gotas, ser derramada em doses homeopáticas no teu olhar gigante. Lá dentro, desintegrada, juntava os fios cortados de quando a boca se fecha em pedidos e súplicas - fique, aqui vai ser bom, aqui eu te mereço, aqui já estivemos em tempos antes de nascer, aqui inteiros. Por dentro da retina naveguei, descobrindo no meu reflexo de lágrima o que nos afasta e nos reprime na inocência de gostar: apegos, sentidos, suspiros, saudades. Ali uma vez já tinha sido, mas seria novamente tanto e quanto o olho precisasse, o incessante piscar de cinema movediço mas na verdade está parado - o filme todo uma grande imagem estática. Quem assiste não quer saber do meu tamanho, da minha idade, de como cheguei até ali - só quer a certeza de que ainda mergulho ou trafego ou respiro por entre a fina camada líquida esperando a hora de chorar - choro sempre que o corpo me inflama, desejo ser grande de novo, então. Fui crescendo e por dentro sentia um transferir de almas, já não era mais átomo, Deus, partícula, movimento. Já era você de novo, sentindo através do meu olho a sensação de goteira, meu olho embebido na mágica. Era eu quem me olhava de longe.
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