terça-feira, 8 de abril de 2025

Uma tela invisível

Regalia de sentidos, explico constantemente o que não grito. Fugindo assim para dentro pego um caminho estreito, uma estrada de plástico, um carrinho sem freio, a lama se ocupa das flores e o que vejo já é o que sinto. O cenário é meio cinza-vermelho-cianítico, nele estou sempre fiel grudada às paredes da não-lógica, num comboio paralítico, um saveiro semi-crítico, um morteiro quase artístico. Comigo a caravana de nus e pés raquíticos, um céu de palavras beges com furos pretos e frutos cítricos, mas ali a terra é plana e eu imersa no infinito. Virada assim para cima vejo que estou aprisionada, ali eu fico, quem me olha e me fia é a mente que sempre alcanço e nunca evito. Por dentro dela, abóbada, me fito, e lá fora sou sempre o calor da madrugada ou o prédio onde não habito. 

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