A queda é sempre ocasional: perigo discreto de me fascinar demais pelo que invento e o medo é um pássaro carnívoro que deglute os sentidos, estou cega e o que me guia é a sensação de gelo entre meus dedos, uma carcaça machucada no centro da calada da noite, persegue meus olhos sempre num voo lento, um ataque mortal, estou presa e as cartas embaralhadas. O que pressinto não pode ser dito. Me agarro ao avesso do que sei, uma aptidão furtiva de mergulhar para fora da boca sem dentes antes de ser entregue a seus filhotes que gritam - desespero por absorver minha pureza, meu sangue cristalino, minha dúvida ardente-azul-amolecida. Eu tenho certezas que são espadas, estão aqui, bem escondidas no punho, arrebato a barriga da ave-noite arranco suas lombrigas penetro em suas penas por dentro pra fora seu ninho é minha casa, agora. Estou de volta e órfã da vida, com fome da carne que não me foi entregue na boca pois estava muito ocupada para comer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário