PACTOS (ou a ejecção para fora da atmosfera)
A ficção alterada da realidade, a atração pelo possivelmente insubstituível. Naturalmente me esgueiro entre os totens que a mente cria, aqueles de pessoas, aqueles de prováveis mentes, aqueles de olhos e ouvidos despertos e dispostos a queimar na brasa cada movimento, cada pensamento vivo, cada passo trocado com o chão. Cada palavra, também, por que não? Dentre seus corpos imóveis e petrificados pressinto um aroma de vício, um café amargo, a delícia de mergulhar na própria seiva ácida da razão e de lá retirar entulhos magníficos: uma certeza, uma teoria, uma catarse. Um vão - dentro do veio da rocha preciosa do silêncio me escondo tal como a droga perfumada da malícia - ali me mantenho só pela força do hábito, até alguém me chutar o traseiro e chamar o meu nome falso: venha pra fora, perdão! Nada é tão complexo que não possa ser silenciado, então pressinto que também posso ser expelida de vez em quando do mundo, lançada ao espaço numa tentativa de alterar o rumo do universo com a minha incrível força gravitacional. Não tenho tempo. Preciso me manter ativa, viva, compacta no meu ar habitavelmente salubre, não posso com a sombra da dúvida. Não posso comigo, tenho que ser pra fora - já me basta a crueza de uma vida partida e um nada perdido pra aparentar ser inteira. Sem meu ato certeiro, meu único pacto seria com o tempo, e o tempo não tem parceria com quem não se acaba.
NOTAS SOBRE O FIM QUE NÃO CHEGOU
O meteoro do caos, penso que o centro do impacto pode ser onde a trinca desdobra o ar que corrói o futuro - ali onde nada toca nem quando se sonha acordado ou dormindo. No passado a gente sofre, no presente a gente dói o passado-queloide de eras, as dores incríveis, translúcidas - as mil dores a granel de um sofrimento perpétuo. A roda gira, então? A gente troca de roupa e a dor segue lá. A gente lava o rosto e a dor segue lá. Ali, bem debaixo de um suspiro aliviado de prazer. Ali, por trás de um sorriso genuíno de excruciante alegria - o choro é real e eu não sou um robô.
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